domingo, 31 de agosto de 2014
Bar é poesia (Contradições de estilo)
Contradições de estilo
(luiz alfredo motta fontana)
nas vitrines
à cada tarde
teu olhar busca
cores, texturas, e ousadias
que lhe cubram o corpo
quando à noite surge
o despir é iminente
Bar é poesia (Enredos findos)
Enredos findos
(luiz alfredo motta fontana)
Se...
foram belos
Se...
foram vivos
Se...
foram apenas momentos e risos
Restam...
nus
com seus enredos findos
Bar é poesia (Um sorriso triste)
Um sorriso triste
(luiz alfredo motta fontana)
a pior despedida
a do poeta à sua musa
ali, em silêncio
ao pé de versos mudos
recolhe o desejo
já não há retorno
apenas um sorriso triste
sábado, 30 de agosto de 2014
Bar é poesia (Mesa Vazia)
Mesa Vazia
(luiz alfredo motta fontana)
Enquanto houver
uma só mesa
vazia para ocupar
Mesmo que distante
mesmo que ao canto
Haverá a possibilidade
de um verso
entoado como refrão
ocupando sutilmente
o abandono
Nela pedirei copo e gelo
solidão e cinzeiro
em doses duplas
mas pausadas
O aroma do carvalho
dará sentido ao poema
iludirá o desconforto
mesmo que finda a cena
a espera
do copo vazio
Bar é poesia (Brinque de "roqueira")
Brinque de "roqueira"
(luiz alfredo motta fontana)
Leia
Drummond,
o que é Carlos
além "de Andrade"
Vinícius,
o "de Moraes"
e de tantas musas
Cecília
a "Meirelles"
Leia
Conjugue o verbo ler
Com direito ao depois...
compreender,
sentir,
olhar
Já o folhear
apenas permite
o citar,
o recitar,
o fingir
Leia
depois, como menina
brinque de "roqueira"
tome "um banho de lua".
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Bar é poesia (O artesão)
O artesão
(luiz alfredo motta fontana)
Molda o poema em curvas suaves
Esculpe saudades onde era ilusão
Mimetiza o amanhã
com os tons do passado
Tateia as palavras
com um sorrir meio triste
É mero artesão
percorrendo versos
Já não finge poeta.
Bar é arte - Carole A. Feuerman
"Serena with Blue Cap"
Carole a. Feuerman
"Serena with Pink Cap"
Carole A. Feuerman
"Serena with Red Cap"
Carole A. Feuerman
"Serena with Yellow Cap"
Carole A. Feuerman
"Serena Print Series"
Carole A. Feurman
Bar é poesia (A artesã)
A artesã
(luiz alfredo motta fontana)
Delicada mulher.
Distraída artesã.
compõe minuetos em faina diária;
- "essa cor, sim";
- "aquela, de jeito algum';
- "esse traço, excede";
- "aquele, conforme".
Assim:
qual maestrina,
educa, compõe, harmoniza.
Delicada artesã.
Distraída mulher.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Bar é poesia (fotograma do que foi)
fotograma do que foi
(luiz alfredo motta fontana)
cada dia mais nu
cada manhã mais leve
pelas noites
a poesia como lume
confessa
em cada verso
acenos que tecem adeus
o tocar leve
de um sax prata
relata em tons suaves
o que foi
além de pistas do que será
saudade ou ausência
não mais estranho
embora triste
revelado
na quietude
de esmaecido fotograma
Bar é poesia (No espelho do Café Central)
No espelho do Café Central
(luiz alfredo motta fontana)
Há prazeres conhecidos no Café Central
o balcão familiar
o murmurinho dos habituées
o aroma de canela
o eventual olá de um conhecido
Nessa manhã
talvez por distração
notei um outro
no espelho por detrás
o reflexo
por óbvio
era o meu
mas...
traduzia um alguém
que por um tempo
caminhou com tua presença
Hoje
enfim
em companhia de tua ausência
sorriu para mim.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Bar é poesia (Chiados)
Chiados
(luiz alfredo motta fontana)
Sonhei em 78 rpm
Amei em LP
Confundi em estéreo
Filosofei em quadrifônico
Reaprendi em CD
Te revejo em MP3
Bar é poesia (Melhor é a noite)
Melhor é a noite
(luiz alfredo motta fontana)
Melhor é a noite,
a calma pausa entre ausências,
fino véu que esconde o olhar.
Melhor é a noite,
distraída, revelando o contorno
do estar só
em repouso.
Nela, o calar não grita,
apenas espera
o adormecer.
Bar é poesia (não rima)
não rima
(luiz alfredo motta fontana)
passado pode dar em samba
bolero, tango ou blues
mas...
sabe bem o poeta
passado não rima com cotidiano
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Bar é poesia (nu)
nu
(luiz alfredo motta fontana)
sem fardos,
sem gavetas,
sem sequer segredos.
livre de bibliotecas,
acumuladas durante incertos anos,
trilhas e canções,
antes em gravações,
agora tímidas notas,
em assovios roucos
nenhum álbum,
ou mesmo fotos,
apenas as imagens retidas na memória.
esquecido dos anéis de doutor,
a lição que resta,
é antiga,
a zabumba,
do Caminho Suave.
sem culpas,
sem desculpas,
sem álibis.
livre,
leve,
nu.
feliz?
talvez,
não fosse aquele verbo
perdido
junto ao verso
que já não existe.
perdido
junto ao verso
que já não existe.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Bar é poesia (O encanto)
O encanto
(luiz alfredo motta fontana)
A moça no limite da maré
caminha em passos de bolero
suave, triste, sem anel
O casal de muitas idades
à frente brinca
renascido em folguedos antigos
A moça caminha
o olhar úmido
O mar
atento
transformado em delicado estar
busca com suas marés
lavar-lhe a sombra
levar as mágoas
A moça
O mar
O casal já velho
Traduzem
o encanto
Bar é poesia (Glamour)
Glamour
(luiz alfredo motta fontana)
Aos vinte anos
A pressentia em francês
Aos sessenta
Recordam em chansons
Bar é poesia (Poemeto cruel)
Poemeto cruel
(luiz alfredo motta fontana)
Passara a vida colecionando
de frases à bulas
com método e disciplina
para ao final
compreender
O alívio
morava no descarte
domingo, 24 de agosto de 2014
Bar é poesia (Dizem...)
Dizem...
(luiz alfredo motta fontana)
Dizem...
Que construímos mundos
Confortáveis, seguros, apreciados...
Cercados, por vezes floridos
Uma orquídea aqui, outra acolá
Depois, estremecemos
Passamos ao cuidar
Barreiras, muros altos, portas, sete chaves
O mundo fica "mundinho"
aprisionando
Qual gaiola o Bem-te-vi
Dizem que existem outros
Descuidados, sem essas manhas
Sem jardins, afora as praças
Sem quadros na parede, até pela ausência delas
Sem criados, mesmo que mudos
Levam consigo apenas o olhar,
E no olhar, o já visto e o porvir
Dizem que diversos, quase que avessos, seguindo seus caminhos,
mesmo que paralelos, apartados
Uns
com o mapa feito, com o chegar já conhecido
Outros
levados pela brisa, com o pousar não previsto
Dizem...
É a forma que encontraram
Para carimbar o estranho
Mas...
Apesar do dito...
Valeram os breves momentos havidos
Quando a lua se fez cúmplice
Quando a carícia se vestiu de afago
Quando terno era o desejo
Que mesmo assim queimava como lume
Afora isso o aprendizado...
Melhor ter vivido
do que apenas
o sonho
ter mantido aprisionado
Bar é poesia (Nus)
Nus
(luiz alfredo motta fontana)
Numa noite
nos vestimos
apenas com o luar
nessa noite
éramos, eu e tu
éramos um só
embora dois
mas sobretudo
éramos nus
Veio o dia
despertamos
eu e tu
ainda nus
No momento seguinte
sem que alguém nos visse
percebi, já vestido
teu aceno ao longe
Já não éramos
nem dois
nem um
nem nus
Hoje quando passeio ao luar
meu sorriso, que se esconde
desperta
por um instante
diz que fui
diz que fomos
nele acho até
que ainda somos
Nós
nus, num relance unos
sábado, 23 de agosto de 2014
Bar é poesia (tateando em baixos relevos)
tateando em baixos relevos
(luiz alfredo motta fontana)
Há algo, de impune, na autora de charadas
enquanto mistério
há algo, de triste, na mesma mulher
quando resta desnudo
o que antes era segredo
Há algo...
além do conhecido umedecer
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