quarta-feira, 23 de julho de 2014

Quinteto Armorial - Cantiga - 1980

O adeus de Ariano!






Ariano Suassuna  (16/06/1927 - 23/07/2014)


LÁPIDE

(Ariano Suassuna)

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!

John Coltrane - Like someone in love

Bar é fotografia - Martin Henson






"Salts Village Street"

Martin Henson

Poesia do dia (Familiaridades)




Familiaridades


(luiz alfredo motta fontana)




Caminho
lento, lerdo,
como sempre caminhei.

Não há pressa,
não há tensão,
apenas caminho.

Os quarteirões desfilam,
qual alegorias de um carnaval esquecido,
janelas, recantos, descuidos.

Sorrio,
reconheço o caminho.

Ele,
como eu,
muda lentamente.