quase um bolero
(luiz alfredo motta fontana)
a chuva fina
não permitia fumar
não permitia fumar
a calçada, irregular, aconselhava
melhor não apressar o passo
a sola lisa desafiava escorregares
três quarteirões antes
acordara em meio à noite
ela dormia
depois do bar quase deserto
do riso aberto em decote
sua última frase, fora o alerta
- precisamos conversar
levantara-se, sem barulho,
vestira-se no corredor
na varanda, calçara-se
agora a chuva apagava o rastro
garantia o não retorno
era só virar a próxima esquina
já não sorria
apenas mantinha
o passo lento
e o adeus calado
quase um bolero